03/06/07

O DRAMA DOS INCÊNDIOS!


PARA QUE NUNCA MAIS VOLTE A ACONTECER!

Relato da tragédia, vivida no fatídico verão de 2004, por uma jovem, quando passava férias em Monchique.

Finalmente fui a Monchique matar saudades daquele ambiente que tanto apela aos sentidos e às boas memórias da minha vida…
No domingo de manhã fui pôr flores na campa dum ilustre conterrâneo a quem não vejo ser prestada a devida homenagem, apesar do papel fundamental que teve no âmbito histórico e cultural deste concelho. Obviamente refiro-me a José António Guerreiro Gascon.

Comecei a ouvir os helicópteros, algumas sirenes, estes sons são-me familiares desde a minha estadia na serra em Agosto passado. Regressei a casa para indagar melhor a partir do terraço. Tal como suspeitei desde o primeiro minuto, há fumo para os lados da Foia.

Peguei no carro e subi a montanha, sempre com o coração mas mãos. Não acredito que tudo se vai repetir: focos de incêndio em vários locais dispersos pela serra, fumo, cinza…desespero. Chegado lá acima com labaredas aparentemente distantes que já ameaçavam subir a encosta em direcção ao eucaliptal.

Ergo os meus olhos ao céu e vejo os helicópteros num vai-vem exaustivo, a falta de acessos não permite aos soldados da paz uma maior aproximação por via terrestre. Vou até à pequena barragem no vale e observo a lentidão com que os meios aéreos se abastecem de água, uma e outra vez. Ninguém quis saber durante um ano do reforço de meios. Ninguém!

Canso-me perante a minha própria impotência. Se não conseguem apagar o fogo nas primeiras horas, então está o caso perdido. É deixar arder até não haver mais nada. No final da tarde regresso à montanha e vejo as labaredas aproximarem-se do posto de vigia isolado.

Revolto-me, amaldiçoo as chamas, o governo, os pérfidos seres que causaram isto de novo. Choro sozinha para não dar parte de fraca. Mais tarde o acesso à Foia é cortado, tento contornar pela outra estrada, mas um agente da GNR barra a minha passagem, pois o perigo é eminente.

Tiro algumas fotos para um dia mais tarde mostrar aos meus descendentes a barbárie que fizeram ao meu paraíso.
À noite volto de novo, e as chamas já estão a consumir os eucaliptos na encosta
do miradouro da Foia. Caio numa letargia profunda, não consigo sentir nada. Não acredito que isto seja verdade. Não de novo.

Segunda-feira de manhã subo a encosta para avaliar a área que o fogo nos roubou. É uma extensão enorme. Onde havia vida e verde há agora pontos fumegantes no chão, como se o inferno estivesse a evaporar por entre a crosta terrestre, o solo é negro, o horizonte é nu.
Tiro mais fotos para aqueles que me sucedem neste mundo, para que eles aprendam como esta serra é extensa, imponente, majestosa…porém demasiado frágil e susceptível de desaparecer em algumas horas por irresponsabilidade e falta de respeito pela natureza e pelo trabalho de muitos anos.

Autora do texto: Ana Lourenço
Autor da foto: desconhecido

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as mesmas são propriedade deste blogue e do seu autor

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