19/09/07

HOMENAGEM, PÓSTUMA, A UMA PROFESSORA EXCEPCIONAL!

(clique em cima da foto para ampliar)
É uma sua aluna que o faz, escrevendo um texto biográfico a recordar com saudade a sua primeira professora durante os primeiros anos de estudante no Colégio Santa Catarina em Monchique. Os bons professores nunca serão esquecidos pelos seus alunos. Também eu nunca esqueci a autora deste texto que, também, foi a minha primeira professora.

Este texto foi premiado no ano de 2006 com o 1º. Prémio nos jogos florais de Tavira.

Dona Mercês

Dentre as gratas recordações de pessoas, que conheci na minha infância, avulta a da minha primeira Professora – a Dona Mercês.

Quando a conheci, achei-a uma Mulher muito alta, muito bonita e muito sabedora. Seu nome completo, que fazia questão que decorássemos, era Margarida das Mercês Ginjeira Dias. Mas como professora, era conhecida como Dona Mercês. Era solteira, casada com os alunos, com a escola a que dedicava todo o seu tempo. Todo, não ! A Poesia também tinha o seu quinhão. Parece que, muito cedo, evidenciara o gosto pela escrita e pela leitura, delineando poemas, que declamava em festas ou reuniões familiares, onde era muito apreciada. O soneto era um dos géneros que mais cultivava. Colaborou com o pseudónimo de Guida, na imprensa regional, a saber: na Folha do Domingo, no Jornal de Monchique, no Barlavento, na Avezinha e, também na Fátima Missionária e no Boletim da Mocidade .

Publicou em 1939, a expensas próprias, um livro de poemas e de teatro, intitulado “Serões de Monchique”. Também colaborou nos anos quarenta, na recolha de quadras populares que Abel Viana veio a publicar, no Cancioneiro Popular Algarvio. Contudo, não era rica. Nasceu em Monchique, a 29 de Agosto de 1910, filha de Maria da Encarnação Ginjeira Dias e de José António Dias que tinha loja de panos, aberta na vila de Monchique. A sua inclinação para as letras levou-a a enveredar pela via do ensino, como regente escolar, dado que a economia doméstica e a distância dos grandes centros de estudo, não lhe permitiram ir, academicamente, mais longe. Era uma autodidacta genuína, cheia de brio profissional e de uma intuição, avançada em relação à sua época.

Na sua actividade docente, lia e declamava, extraordinariamente, bem ! Era um prazer, um deleite ouvi-la! Perpassava pela sala de aula um silêncio de embevecimento sempre que isso acontecia. Assim nos ia incutindo o gosto por Afonso Lopes Vieira, por Júlio Dinis, por Augusto Gil, Cândido Guerreiro e muitos outros clássicos.

Leccionou sempre nesta zona de Barlavento, mais de meia centena de anos, no ensino público e no privado, nunca regateando elogios e incentivos aos alunos. Era mais comum elogiar que criticar. O insucesso, ou melhor, a falta de sucesso, causava-lhe uma tristeza tal que todos os alunos tentavam evitá-la. A maioria dos seus alunos prosseguiram estudos e são, hoje, elementos actuantes da sociedade.

Também tinha dom de palavra e fez palestras versando temas sempre actuais, ligados ao Ensino e à Família. Além disso, era dotada de dotes vocais que a incentivavam a ensaiar grupos de canto, récitas e recitais.

Na altura em que fui sua aluna, estudava-se o Império Colonial Português. Com que clarividência, com que sentido de justiça nos fazia reflectir! Ao longo da minha vida, pareceu-me sempre que esta Mulher era dotada de um espírito avant-garde, fora de série ! A forma como preparou o nosso espírito para que aceitássemos o outro, o diferente, era de uma clarividência a toda a prova. Recordo-me que, havia na classe, uma aluna deficiente dos pés e uma outra que falava mal português porque era austríaca e, fazia parte de um grupo de crianças traumatizadas pela guerra, que algumas famílias abastadas da época, quiseram receber em suas casas . A Dona Mercês, a Dona Mercenita, como às vezes, era carinhosamente tratada, sabia a técnica perfeita para as integrar entre nós e para nos inserir junto delas. Sem haver quaisquer diferenças.

Na minha opinião, as centenas se não milhares de alunos que passaram por esta abençoada Professora, têm mil razões para bendizê-la!

E mais, quero alargar o âmbito da biografia que escrevi a muitas ignoradas Professoras Primárias que, ontem como hoje, se entregam de alma e coração à sua profissão, fazendo despertar o gosto pela Língua maravilhosa que falamos e por este Portugal que queremos no caminho do sucesso
Autora do texto biográfico: Francisca Duarte Cruz (licenciada em História)

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi com Grande Alegria que li o texto refte. à Dona Mercês! ... Palavra que fiquei muito ...muito sensibilizado pois foi a Minha Professora que me "Levou", então,a fazer o Exame de Admissão ao Liceu!
...Não posso ter MELHORES Recordações da Querida PROFESSORA !!
Com certeza que está em PAZ!
José Manuel Nobre Furtado


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as mesmas são propriedade deste blogue e do seu autor

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