19/07/07

A MINHA PRIMEIRA IDA À ESCOLA!

(clique em cima da foto para ampliar)
Foi aqui, e com este mesmo cenário, que pela primeira vez, fui à escola de S. Pedro!
Ainda me lembro como se fosse hoje. A minha mãe acompanhou-me nesta minha primeira incursão mais importante da minha vida de estudante. Fomos a pé, a escola ficava distante, no outro extremo da Vila e era bem longe da minha habitação. Havia uma outra escola, mais próxima, a de S. Roque, mas nesse tempo ninguém questionava ninguém. Era mais uma preocupação de uma mãe, sempre zelosa e preocupada com os problemas do seu filho, saber que o mesmo tinha que fazer esse percurso a pé tantas vezes ao longo do ano.

Os Invernos eram nessa altura rigorosos. Não havia meios de transporte escolares, como há hoje, e os automóveis eram um luxo só reservado aos mais abastados. As cantinas escolares onde, hoje, os alunos almoçam não chegava sequer a estar no nosso horizonte, nem sequer em forma de miragem, porque ninguém imaginava que um dia, tal, pudesse acontecer. A pobreza nessa época era muita.

Chegados à escola já havia mais companheiros da mesma aventura à espera. Éramos todos rapazes. As raparigas tal como nós, ficavam todas juntas, noutra sala. Mas o que mais me chamou a atenção era a quantidade de futuros colegas muito mais velhos do que eu, e alguns bem matulões, com sinais de puberdade estampada no rosto. A expectativa era grande para conhecer a senhora professora que na minha imaginação pensava ir ali encontrar, como sendo uma senhora de meia-idade já com cabelos brancos com ar severo, impondo com o seu aspecto toda a sua autoridade e respeito.

Lá estávamos, nós, no pátio da escola em crescente expectativa, esperando ver a senhora professora chegar a qualquer momento. Mas surpresa das surpresas, isso não aconteceu, simplesmente a porta da escola, sem que ninguém se apercebesse, abriu-se, lentamente, e apareceu na penumbra um vulto de uma jovem ainda de tenra idade que mais parecia uma, nossa, irmã mais velha. A dúvida instalou-se no meu espírito: seria aquela menina a senhora professora? Aí confesso tive pena dela, com essa hipótese. Como iria ela dominar toda aquela “malta” se fosse de facto a senhora professora? Depois das apresentações e despedidas das nossas mães, a porta fechou-se.

A resposta às minhas dúvidas, e incertezas, fiquei a conhecê-la já dentro da sala, conjuntamente com os matulões. Era, efectivamente, a senhora professora que iria dar aulas, mistas, com a primeira e a quarta classe, onde os alunos da quarta, a grande maioria, já eram repetentes depois de terem perdido um, ou mais anos. Tinha chegado o momento da verdade, onde os meus receios ficaram dissipados e bem patenteados, ali, naquele momento em frente de uma jovem de corpo franzino, com a introdução que acabara de fazer.

Ninguém poderia imaginar que estava ali uma grande mulher, a primeira aula foi a prova sintomática que a senhora professora não estava ali para brincar em serviço. A disciplina começou logo nesse primeiro dia, e iria manter-se durante todo o ano lectivo.


É certo que a mesma tinha à disposição “argumentos” que hoje estão vedados a todos os professores. Os vários tipos de réguas, e a maior e a menor dimensão dos ponteiros eram os instrumentos que lhe foram facultados por um regime, mesmo, à socapa, que não se inibia de impor a sua lei, nem que fosse necessário utilizar a violência.

A sua personalidade era tão forte e os argumentos que utilizava deixavam sem margem para dúvidas, cair por terra qualquer veleidade, por mais ténue que fosse, por parte dos alunos para poderem ter êxito, nas suas tentativas destabilizadoras, mesmo os mais rebeldes.

Ninguém ficou diminuído fisicamente por isso. Foi a melhor professora que tive, a mais rigorosa e disciplinadora que conheci, durante os meus tempos de estudante, onde todos éramos obrigados a aprender. Recordo com saudades esses tempos. Ainda hoje a senhora professora, natural de Monchique, mas vivendo fora do concelho, não se esqueceu de mim, e sempre que nos avistamos, é sempre um prazer, renovado, cumprimentar-mo-nos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Sonhador, a sua experiencia de primeiro dia de escola é algo parecida à minha.No entanto a sua escola era mais bonita.Bons tempos em que se aprendia,e os professores tinham autoridade para exercer a sua profissão.Hoje são outros tempos e pelo que oiço dizer, são os alunos que ditam as regras.

Anónimo disse...

A disciplina e o respeito aprendem-se em casa.
Coacção por via de "argumentos" de madeira, ou qualquer outro objecto inflingem dor e medo, conceitos que me parecem exactamente avessos ao respeito. Lamento que concorde com esses métodos "didácticos" repressivos, de um adulto bater numa criança com o que quer que seja. Felizmente não vivemos já nesse tempo que o meu amigo recorda com tanta saudade.
Nunca precisei de levar com uma vara para respeitar os meus professores.

Anónimo disse...

Não é com violência que se consegue grandes resultados. Violência gera sempre violência.

Anónimo disse...

De facto, a escola deve começar em casa.Não se deve encarar a escola como um deposito de crianças para que os pais fiquem em sossego durante umas horas.Estes devem ser interventivos na comunidade escolar sempre que necessario para que os professores possam ter uma comunicação mais facil com pais e alunos.Tenho muita pena que alguns pais nunca compareçam a uma reunião para saber como vai o seu filho na escola, mas que cheguem ao ponto de pedir satisfação com cara feia ao professor porque o filho não passou.

Sonhador disse...

A disciplina e o respeito aprendem-se em casa.
Pois é!
O grande problema reside precisamente aí. Na grande maioria dos lares portugueses não há nem disciplina e muito menos respeito. Os alunos respeitadores que têm, ou tiveram, uma educação esmerada, não têm, nem nunca tiveram quaisquer problemas com os professores e tão pouco o vão ter. Sempre foi assim no passado, continua a ser assim no presente. O problema são os outros que nunca tiveram e nunca irão ter educação, porque não deixam os professores exercer cabalmente a missão que lhes está subjacente, que é ensinar e disciplinar.

As notícias que quase todos os dias, invadem as nossas casas, “bombardeadas” pelos órgãos de comunicação social são preocupantes. A degradação é total, falta de respeito, indisciplina, alunos a agredirem colegas, roubos, droga, e o culminar de toda uma degradação que é cada vez mais preocupante. Pior ainda: agora, já, são os próprios progenitores que deveriam, supostamente, dar a educação e ser o garante do rigor da disciplina e do respeito, são eles próprios os primeiros a dar o pior exemplo, chegando ao cúmulo de invadir o espaço das escolas e contra todas as regras elementares da boa educação, afrontar aqueles que zelam pela educação dos filhos: deles! São os próprios que vão agredir os professores. Os professores, infelizmente, hoje, são vítimas indefesas dos alunos, são vítimas dos pais dos alunos e são vítimas do próprio Estado que não os protege convenientemente.

É por estas e por outras que o nosso ensino chegou ao estado de degradação que ninguém pode negar. Antigamente era somente alguns alunos que eram vítimas dos professores, os pais nem ousavam, sequer afrontar os professores por causa das queixas dos filhos, porque tinham medo das consequências que tal acto lhes poderia acarretar, Hoje por culpa dum sistema que só criminaliza os respeitadores, dá liberdade aos prevaricadores para fazerem o que muito bem entendem, não se conhecendo daí grandes consequências práticas por tais actos praticados.

A grande maioria que conheceu a falta de liberdade, sabe o quanto ela é importante na vida de cada um. Mas a liberdade de uns acaba, quando começa a liberdade dos outros! Antigamente o ensino era mau, mas os alunos tinham exames, muitos ficavam pelo caminho, outros poderiam ir mais longe, mas os pais de muitos, infelizmente não tinham condições financeiras para suportar tais encargos e eram obrigados, contra a sua vontade a desistir, mas os que tinham a sorte de os pais terem possibilidade económicas, para levar os estudos até ao fim, saiam das universidades com conhecimento.

Hoje têm, todos, as mesmas oportunidades, pobres e ricos, onde ninguém, já, faz exames rigorosos, como outrora, para demonstrarem o seu real valor, todos têm oportunidade de chegar longe, mesmo sabendo pouco, e mesmo assim todos são unânimes em concordar, que o ensino nunca foi tão mau como agora. Onde está hoje a ética e o rigor como princípios básicos? Onde está a pontualidade e a responsabilidade e o respeito pelas leis e regulamentos? Onde está o respeito pelo direito dos demais cidadãos? Onde está o profissionalismo no trabalho o incentivo de se fazer mais e melhor e a vontade de se superar a si próprios?
Todos estes são valores que o ensino há muito fez tábua rasa!
Depois a nossa classe política, sucessivamente, ainda se vem lamentando de continuarmos, eternamente, na cauda da Europa.
Porque será?


Veja as fotos que se encontram, em baixo, no final do blogue!

Todas as fotos são referentes ao concelho de Monchique!

as mesmas são propriedade deste blogue e do seu autor

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